segunda-feira

Conversávamos sobre lealdades, patriotismo e, enfim, sobre mantermo-nos vivos dentro do nosso próprio país.

O George receava que os altos comandos ingleses se estivessem a vender aos nazis. Ironicamente digo-lhe que isso talvez não fosse mau, que o Hitler parecia ter mais preocupações sociais que os nossos governantes. O George olha para mim, encaixa a ironia, ajeita-se na cadeira e responde calmamente mas num raciocínio tão certeiro que nunca mais pude esquecer:

- "A única coisa boa no meio disto tudo é a pretensão de Hitler ser o amigo dos pobres estar a ser abalada pela base. As pessoas que estão realmente dispostas a pactuar com ele são os banqueiros, os generais, os bispos, os reis, os grandes industriais, etc., etc... Hitler é o chefe de um contra-ataque da classe capitalista que se está a organizar numa vasta corporação, perdendo no processo alguns dos seus privilégios, mas mantendo, apesar de tudo, o seu poder sobre a classe trabalhadora. Quando chega o momento de resistir a um ataque destes, qualquer pessoa da classe capitalista tem de ser traidor ou meio traidor, dispondo-se a engolir as indignidades mais tremendas, em vez de resistir com unhas e dentes... Para onde quer que se olhe, seja para os grandes aspectos estratégicos ou os pormenores mais insignificantes da defesa local, percebe-se que qualquer luta verdadeira implica revolução. É evidente que o Churchill não consegue ver ou aceitar isto, por isso vai ter de ir à vida. Agora, se vai à vida a tempo de salvar a Inglaterra de ser conquistada, isso depende da rapidez com que o povo em geral se consiga aperceber das questões essenciais. Só receio é que as pessoas só se mexam quando já for tarde de mais."*





* George Orwel, in "diários"

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